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Prefácio Patético

 

Quando pensamos nos gêneros literários, em especial aqui o gênero lírico, nos detemos muitas vezes em suas estruturações e formas – versos e estrofes. Carregado com polifonias e significações que constroem relatos sentimentais descritivos, de “eus poéticos” não estáticos e em constante movimento – dentro do tempo diacrôno e sincrônico da humanidade.

Desde as estruturações mais milemetricamente pensadas com seus versos decassílabos, aliterações e assonâncias – aos versos livres, informais, estruturalistas e em sujeição do indivíduo com seu próprio mundo. 

Nesta livro intitulado “O Homem Ilusão”, o gênero lírico da poesia toma forma e contorno, perpassando uma obra carregada como um diário de seu autor, e a descoberta e fascínio do pós-materialidade da dor física e crônica – poética.

Baseando-se em diários poéticos do ano de 2016, a obra destina-se aos simpatizantes das artes literárias poéticas, não enquadrando-se como arte infanto-juvenil, mas apresentando uma temática universalista da transitoriedade das coisas e as dores físicas, mentais e espirituais – das diferentes esferas dos mundos.

 

Vinicius Osterer.

A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas.

 

Johann Goethe.

PARA ENTERRAR UM MORTO

 

Há um homem em mim, sem o H maiúsculo. Há outro também sem H algum. Às vezes me pego em não-humanidade, lutando contra o corpo póetico e físico que nasce e morre entrando em decomposição na terra (dos poetas não lidos e estáticos).

 

Há uma estrutura em meu jardim – em ordem social de planta. Entrego-me e transformo-me em folhas. Busco por raízes, luz solar e ritmo.

 

Lido e não lido.

 

A humanidade é a construção da tolice. Agrupo-me com os grãos de terra menos porosos do que a areia inundada pelas gotículas de uma manhã de mar. Agrupo-me com outros tolos. Há solidão no eco. Lido com as pragas vertiginosas que devoram minha vontade de crescer. Não tenho bandeira, não tenho tronco, nem Manuel. (H)á Gullar em mim que dorme. Com H e sem H.

 

Conspiro em testamento mesmo sabendo que a existência é atrasada. A não-liberdade é a realidade verídica sobre minhas veias de seiva. A natureza primordial é primitiva. A humanidade é um canteiro selvagem de flores. Assumo o caixão de enterro entre caracóis e roseiras brancas.

 

Busco. Na literatura encontro o velório, como um cemitério de covas-palavras. Com o Tummo (fogo da sabedoria) me transporto póstumo – na energia de destruição há construção-ideia.

 

Omem, sim. Repleto de poesia-ilusão. Lido com a ideia, não lido com os olhos. No jardim anêmico e cego, eu sigo. EU? (?)...

 

...morto.

PARTE I – TUMMO

 

No calor de uma cidade vazia, constrói-se aos pedaços despetalada – velha flor tumultuada de quintais e canteiros-jardins. Como erva daninha, rasteira e raivosa, trajando felicidade (danosa) em cor de pétala mau-me-quer. Bem me quero? Energia – plexo solar calado. Há uma dúvida in-certa (não homem) de compor a metáfora daquilo que não sou e não quero. Há desdenho, há ribalta, há realidade – do sol com as pedras estáticas, do vento uniforme sem cor, do inseto rastejante como lesma-formiga-minhoca, da terra sedenta querendo virar rocha, nutrir o magma terrestre, participar da gravidade de universos siderais e teorias físicas das cordas. Rompido, falta-lhe tummo. Não se é – como rastros derretidos na neve. Deixa de ser planta social, temendo a tempestade de vento, as lagartas em sequência – comendo as folhas que retiram energia do sol, da água e da terra. Microscópico giro em de-composição: criando a ilusão de um H maiúsculo civilizatório. Só quero ser “omem” (sem h), só quero ser planta e nada...

Indiscreto

 

Já andei pelas ruas me sentindo um lixo,

Um grande lixo, feito de uma grande (des)ERA.

E para mim será que isso ainda faz sentido?

A autoestima tão amena, também pudera...

Sou um punhado de cabelos secos e vermelhos,

Sou os vazios, e tenho quase tão pouco,

E todos os reflexos nas vitrines e nos espelhos,

Com vozes tão altas, me deixando louco.

Mas aprendi a fingir que isso não me afeta,

Que isso é coisa passageira do momento,

De uma forma peculiar e tão indiscreta,

Eu estou tentando tirar algum proveito.

Não! Não posso dizer que não me afeta.

A sua perspectiva não me faz nada bem.

Estou vivendo em emergência e alerta,

Em uma imagem aonde eu posso ir além...

“Estou mais feliz e receptivo ao meu degredo,

Estou mais satisfeito agora.

Quando acordei hoje, um pouco mais cedo,

Foi só por Deus, minha Nossa Senhora”.

O inferno é aqui, e eu não lhe vejo,

E se lhe vejo, eu lhe desejo,

Se lhe desejo eu lhe quero,

E se quero?

O diabo é eu, e moro aqui,

Dentro de um texto indiscreto,

Esperando

Você me ler.

 

 

Não Exist [o-e]

 

Parece que eu estou em um hospital,

De noite, quando a luz afeta os sentidos,

Quando sei muito bem que eu estou mal,

Fisicamente nada em mim é perfeito.

Quando se apagam as luzes eu sou normal,

Apenas mais um paciente com os seus motivos,

Um verdadeiro sobrevivente de sua moral,

Que tentou corrigir o seu problema e defeito.

Por que ninguém nasceu perfeito...

Não, ninguém nasceu perfeito.

 

A luta maniqueísta tem sentido,

Somos luz e somos escuridão,

Se me perdi em “barroquismos” envolvido

É que eu fiquei dentro desta percepção,

Onde as coisas são o que são,

São o que são, porque nada é perfeito.

Por que ninguém nasceu perfeito...

Não, ninguém nasceu perfeito.

 

Estamos nus, embarcados no “mundo”.

Por que ninguém nasceu perfeito,

Por que não existe perfeição.

Por que sentei por um momento e me envolvi em escuridão.

Meus olhos não dizem o que quero dizer,

Minhas pernas correm para uma nova direção,

O que ainda irá acontecer?

Sofrer não é sinal de salvação!

 

Parece que eu estou em um hospital,

De noite, esperando por uma cirurgia,

Que me deixe um pouco mais normal,

Como na literatura regada com magia.

Por que ninguém nasceu perfeito...

Mas ah! Como eu queria!

Tomo cinco comprimidos

Para manter minha dignidade,

Para conseguir ter inspiração.

Tomo cinco comprimidos

Para vencer a mortandade,

E não acreditar na desilusão.

Ninguém é perfeito, e não existe perfeição...

Oh meu deus!

EU NÃO EXISTO!

Eu sou uma sombra que apenas finge escrever.

 

Não me acorde!

Estou operando o que é feio em mim.

Aquilo que não lhe agrada, que não é usual.

Eu não quero ser perfeito,

Quero ser um bom sujeito,

Um sujeito bacana, um sujeito normal.

Fisicamente nada em mim é perfeito,

Uma sombra em dúvida, dizendo:

Prazer! Sim. Eu não existo.

 

eu Sou o Seu nada

 

Eu sou o seu nada,

E toda aquela coisa chamada contradição.

Andando sem rumo por uma estrada,

Que se tornou a minha pior maldição.

Contra um século de seres miseráveis,

De coração, de rancor e dúvidas perigosas,

De lágrimas cegas e sentimentos inconsoláveis,

Contramão do sucesso das pessoas grandiosas.

 

Eu sou o seu nada,

Aquele ponto de interrogação no final da frase,

Uma placa a-sentimento na via movimentada,

Palavra que não existe terminada com crase.

Todos olham para cima e eu olho para baixo,

Todos vestem moda, eu visto desespero,

Enquanto sorriem eu nunca me encaixo,

Sou da vida a morte, da rua o bueiro...

Os meus dentes são tortos,

E nada parece fazer sentido.

Com os trabalhos acabados,

Com os amigos já mortos,

Sem chorar, para não ser ressentido.

Sou bonito chorando, eu sou o seu nada,

Com um sentimento tranquilo, olhar duvidoso

O garoto imperfeito com sentimento daquilo,

Que na esfera da língua soa ruidoso.

Eu sou simples-mente, nada.

 

De domingo

 

Não sei o que pensar ou como agir,

Queria poder te ignorar e fugir,

Mas hoje pela primeira vez tive aquilo,

Aquilo de novo com você pela primeira vez,

Meu coração só teve aperto, nem sei explicar,

Como é possível sentir o que sinto sem amar?

Você está no subconsciente,

Sou mais um homem inconsequente,

Que está aprendendo a admirar hábitos,

A maneira de falar e a maneira de agir.

Você saberia me aceitar na minha totalidade?

Você saberia me enxergar por completo?

Seria uma história baseada em mortalidade,

De um sentimento pequeno e correto?

Mas você iria me querer por completo?

Você saberia enxergar o meu amor?

Em alguns minutos me refaço tão perto,

De você com outro, re-criando a dor.

E dói como se fosse a mim,

E passo mais um domingo na solidão,

Abraçado à um travesseiro, e enfim

Tentando entender o meu coração.

 

Chorei na rua voltando para casa,

O sentimento era grande e me exterminava.

Você produziu em mim um sentimento dúbio,

Não consigo discernir o que é atração

E o que é amor.

As lágrimas de culpa foram um dilúvio,

Por que ainda dou algum valor?

Você saberia enxergar o homem que eu sou?

Saberia ver o que meu rosto iria mostrar?

Saberia aceitar alguém que não lhe admirou,

Mas, resolveu em um domingo apenas admirar?

 

Não sei o que pensar ou como agir,

Acho que não sei lhe amar

Então pretendo não reproduzir,

Eu estive pensando sem parar:

De uma maneira meio inconsciente,

Sou um homem tão longe daquilo,

Eu sou tão diferente,

Nada em ordem, mas tudo tranquilo,

Prefiro ficar aqui sentindo,

Imerso na minha melhor solidão.

 

Você não me aceitaria sorrindo,

Você iria querer saber o porquê,

E eu iria então me irritar

E com certeza não amaria você.

Eu sou um monstro sem sentimento,

Você não saberia me enxergar,

E no fim nem existiriam motivos

Para escrever sobre isso ou pensar...

Você não iria gostar de um passeio selvagem,

E eu não iria mudar para agradar gostos.

Melhor partir e guardar você na saudade,

Dos sentimentos que já tive

Com inúmeras faces e rostos.

 

O Ciclo de Luas

 

Eu sempre cumpro o meu ciclo de luas,

Eu faço e refaço o meu calendário,

Correndo e andando pelas ruas,

Começando e concluindo trabalhos.

Eu acendo e eu apago minhas velas,

Eu bebo vodca e eu fumo cigarros,

Eu prendo e eu solto todas as feras,

Com os meus pensamentos normais e bizarros.

Eu sempre cumpro o meu ciclo de fases,

Eu refaço e redigo o que eu mesmo fiz,

Eu brigo comigo e depois faço as pazes,

Como se isso fosse tão fácil como se diz.

Eu jogo no lixo e eu me arrependo,

Eu pinto com tinta então eu repinto,

Mas, isso é o porquê estou crescendo,

E este é o motivo pelo qual eu sinto,

Que meu ciclo de luas está se refazendo,

Eu faço e refaço, isto é para agora,

Nas ruas escuras e estreitas, vivendo,

Alguém que no fundo não me adora.

Eu cumpro o meu ciclo, concluo o trabalho,

Apago as velas e aumento a minha religião.

Abri e fechei o meu velho dicionário,

Baseado no ciclo da lua, e da escuridão.

 

Agonia Matutina

 

Hoje mais do que nunca,

Queria estar entre os mortos,

Porque nunca ouvi nem mesmo um obrigado,

Com os meus cabelos vermelhos,

E meus dentes tortos.

 

Estar em outro plano e cruzar o outro lado.

Terei uma crise?

 

Paro de comer e me retiro da mesa.

Já vi isso em um dia de reprise,

Onde comi a minha dor de sobremesa.

Estou nublado como o tempo lá fora.

A minha crise de agonia [vai passar]

O silêncio da minha casa é o meu aliado.

Um dia eu estarei feliz e enterrado,

Isso é tudo por hoje, mais do que nunca...

 

Agonia Vespertina

 

A vida me tirou aquele sorriso tão cedo,

Me deixou velho quando era bem jovem.

Hoje eu me deparei com a morte sem medo,

Vai acontecer, pois sou um mortal – um homem.

Todo ser humano morre e envelhece,

Todo ser humano fica sábio e enrugado.

Quando menos espera ele padece,

E as coisas ficam no incompleto e inacabado.

David Bukowski

 

Há uma aranha de marte em meu peito,

Simbólica como um raio na testa.

Grito para que não adoeça as estrelas do céu,

Caindo sem forma, sem partida, sem festa.

 

Há uma aranha tecendo teias em meu peito,

Regulando os pulsos, as vibrações e os tons.

Criando em cima de todo santo batimento,

Uma ninhada de ovos – tarântulos – marrons.

 

Eu olho para tudo que é possível não ser,

Para as atitudes da aranha e do [não] feliz,

Um homem realizado, prazer!

Completo, como sempre se diz.

Nem pássaros azuis, nem aranhas de marte,

No Tummo – sem luz, sem fé, sem parte...

Rom-pi.............do.

UM VALOR CHEIO: de palavras

Para ser sincero eu não sei o que esperar,

Sobre o que eu devo escrever,

Qual o sentimento que eu estou sentindo.

Eu sei apenas que faltam alguns dias para o ano acabar,

E que tanta coisa vai me acontecer,

E que estou organizando as coisas por algum motivo.

E não quero que este seja o meu melhor texto,

Ou a minha melhor memória, ou meu melhor sentimento,

Ou a melhor coisa que eu faça, ou o melhor de mim.

Isso tem que fazer sentido, ter algum valor.

É sobre isso que eu estou pensando neste momento.

Eu não quero dar o melhor para os outros,

Quero de uma maneira egoísta guardá-lo para mim.

Eu quero o melhor de mim para mim,

Eu não quero o meu melhor para quem não se valoriza.

Eu quero o melhor de mim para mim,

Quero este sentimento que chega e não avisa.

Eu não quero que este texto seja sobre isso,

Sobre querer e sobre não querer,

Eu nem sei o que esperar ou sobre o que eu devo escrever,

Mas isso tudo precisa fazer mais sentido,

Eu estou me reorganizando por algum motivo,

Sim eu sei, existe um motivo, mais um motivo.

Eu nem sei como quero que me chamem,

Se eu quero dizer adeus, se eu não quero mais me frustrar,

Se quero pegar as minhas malas e ir para outro lugar.

E não sei como eu devo me parecer,

O que eu devo realizar,

Não sei se preciso de tanta coisa,

Ou se as coisas precisam me complementar.

Quero que tenha algum valor, que seja completo,

Como um silêncio de madrugada, um desejo de morte secreto.

Quero que seja mais simples e menos rebuscado,

Que seja mais irregular e menos quadrado,

Que seja menos escuro e mais iluminado,

Um pouco menos atemporal e um pouco mais inacabado.

Eu quero abrir os meus olhos e enxergar a realidade,

A árvore sendo árvore, o céu sendo o céu,

E você sendo muito mais você.

Quero aproveitar o sentimento que me invade,

A árvore sendo árvore, o céu sendo o céu,

Poder abrir os meus olhos e enxergar o que não se vê.

Para ser sincero eu não sei o que esperar,

Sobre o que eu devo escrever?

Eu não quero dar o melhor para os outros,

Quero guardar o melhor só para mim,

Quero perder os motivos errados aos poucos,

E ter um valor cheio de palavras no meu fim.

 

Texto sem dono

 

Eu tenho medo de morrer hoje,

Nesta cama escura com chuva de Janeiro.

Estou com pressa para viver,

E quero tudo e mais um inteiro.

Eu não tenho um tostão, mas tenho uma meta,

Já liguei o meu sinal de alerta,

Nem tão bom ou tão ruim, pois eu sou um significado,

Maior do que a capacidade de ser neutro sem ter lado.

E na contra cultura já não existe opinião,

O amor é baseado em uma grande negação,

O garoto 22 já é um quase 23,

E o que ele fez?

 

Ele queria escrever um livro e já tem 8,

Mas, nada daquilo foi publicado,

É rascunho atrás de rascunho de um sonho fantasiado.

 

Quem sabe eu perca o meu medo.

O medo desta cama escura e da chuva de Janeiro,

O medo de viver só por mais um dia inteiro,

Sabendo que eu quero tudo e mais um.

O garoto 23, o garoto 22, arcano 21.

O tarô está certo quando diz,

Vou fechar os meus olhos,

Porque hoje só quero dormir com a chuva,

Com o barulho caindo lá fora e em meus pedaços.

Este texto sem pé e nem cabeça me caiu como uma luva,

Abriu as lacunas e acabou preenchendo os meus espaços.

Me dói tanto e é tão diferente,

Eu nunca vou poder ser um igual,

Enquanto a insônia dominar a minha mente,

Eu não poderei sonhar com um final.

Eu não rogo baixo por pragas,

Eu nem mesmo rezo pela fé,

Uso as minhas memórias amargas,

Para conseguir me manter em pé.

 

E para acabar este texto sem sentido,

Eu quero uma manhã de domingo nublada,

Que não haja por nenhum motivo,

Aquele sentimento de não sentir nada.

O garoto 23, que é 22. Arcano 21 é livro?

 

Vou fechar os meus olhos e tentar dormir,

A chuva de Janeiro me deixou com sono.

Se pela manhã eu não acordar e partir,

Este texto desgovernado não terá mais nenhum dono.

PARTE II – PÓS-TUMMO

 

Desabado e não recolhido. Há mistério dentro da decisão da morte do Homem, após a descoberta da liberdade – essência. Construo um sorriso, com alicerces e fundações – sou emotivo. Não brota da terra como broto. Não germina aquecido dentro do peito. A palavra é sepultura e eu me enterro: sem calor, felicidade, em prisão intelectual. É ideológico? Não há grama rasteira de sociedade que traga a redenção e a ressurreição do corpo, da classe, do gênero, do sem (H) omem. Condenado a virar pó, a virar sombra – em ilusão. O h-omem e a vila dos ossos, de seu pequeno jardim (morto).

 

 

Para a minha lembrança

 

Querida sobrinha, você verá o céu que eu vejo?

Você terá o prazer de ver o pôr do sol aqui de casa?

Você se sentará para observar o meu desejo?

Ver o horizonte consumir o sol como uma brasa?

Futuros filhos desta Terra, o que vocês estão vendo?

Futuros amantes da literatura, quais são os seus sonhos?

Vocês assim como eu sofreram e acabaram adoecendo,

Pelas coisas que escolheram ou pelos medos mais enfadonhos?

Deram os mesmos passos solitários e indesejáveis?

Mergulharam em um mar de vitórias pessoais tão risonhas?

Superaram os mesmos obstáculos insuperáveis?

Viraram as mesmas lembranças às vezes amenas e tristonhas?

O amor continua sendo o mesmo amor?

E o que você me conta sobre a intolerância e o ódio?

Para curar as feridas e tanta dor,

Existe algum medicamento eficaz que é tão pródigo?

Querida sobrinha, você deve ter visto o que eu nunca vi,

Futuros filhos desta Terra, o que vocês estão vendo?

Os rumos da literatura que eu nunca conheci,

Podem agora estar abrindo um livro e me conhecendo.

O que eu quero não tem mais importância,

Eu já fui presente e também já fui passado.

Quem sabe hoje eu seja apenas uma lembrança,

De alguém que viveu e já foi enterrado.

 

O que me faz bem

 

O que me faz não desejar mais o querer e não querer?

O deixar de amar facilmente para me isolar e escrever,

Sobre desejos, sobre ligações, sobre sentimentos que não alcanço,

Dentro de um ritmo no qual nem mesmo eu danço,

E com estas rimas patéticas e ridículas que não fazem sentido?

Eu sempre preferi o banheiro acabado da minha casa,

Do que a cama desconfortável de um hospital.

E não sei o porquê quis pensar em algo que me arrasa,

E que não me deixa nada bem, só me faz mal.

Iludir quem apenas quer ser iludido?

Amar com uma faca e traçar argumentos?

É errado escrever para si um testamento, já precavido,

E achar que terá algum valor nos defeitos?

Eu não quero ser traduzido, nem sequer quero a compreensão,

Quero o meu banheiro velho e os meus remédios vermelhos.

Quero meus remédios brancos e apagar as luzes da razão,

Poder parar e respirar sem precisar pintar os cabelos.

Queria querer tão menos e ser um pouco mais.

Queria querer o tanto que quero, a vida é cansativa.

Tenho poucos anos, mas já desejo descansar em paz,

Queria querer que viver fosse uma questão optativa,

Sem relacionamentos fracassados, sentimentos mudados,

Frustrações sobre o futuro e toda aquela expectativa criada.

Viver com os dias contados, diminuídos ou acrescentados,

Em uma ilusão permanente e projetada.

Estou escrevendo o que me faz bem e mais nada,

Faz tempo que eu queria querer este dia.

A minha feição até parece bem mais corada,

Como num piscar de olhos ou num passe de magia.

O que deixar sobre a Terra é um tanto quanto cômico,

Quando não se sabe nem ao certo como viver.

Eu queria querer um amor não tão platônico,

Por este testamento que eu acabei de escrever.

Rain de Janeiro

 

Cibila é o nome que dou para a tempestade de Janeiro,

Aquela que está se formando no horizonte da madrugada,

Com tantas dores e relâmpagos eu me congelo por inteiro,

Porque eu não quero mais sentir por um bom tempo nada.

Esta chuva está se formando em um turbilhão de vento,

Rodando como meu moinho dentro da minha cabeça,

“Você é um ninguém, o que é aquele garoto sem talento?”

Nem mais e nem menos, então me esqueça!

Rodando dentro da minha cabeça!

Rodando dentro da minha cabeça!

 

Em uma estrada psicodélica, majestoso moinho,

A loucura é mais do que apenas um caminho,

Moinho de vento que roda e roda e roda e roda,

Moinho de vento, o seu vento me acorda,

Moinho de vento que roda, e roda e roda e roda,

E roda e roda e roda e roda...

 

É the Rain de Janeiro que me assusta e dá medo,

O final do verão climático e sintomático,

Depois vem o carnaval de um Fevereiro ameno,

Muito mais simbólico e muito mais prático.

O céu se revira entre nuvens escuras e densas,

E meu corpo se contorce em cólicas crônicas e tenebrosas,

Eu acalmo a mim mesmo e todas as minhas crenças,

Porque sempre existiram tempestades grandiosas.

E no fim de Janeiro após tanta água cruzar a ponte,

Quem sabe o que poderá me ocorrer?

Se eu encontrar dentro de mim a secreta fonte,

Nada mais irá conseguir me deter.

É the Rain de Janeiro que me assusta e dá medo,

A gripe de escuridão que me deixou bem apático,

Depois a dor que me abateu hoje bem cedo,

Me deixou um pouco mais agressivo e dramático.

Eu não sou mais, mas não sou menos, então me esqueça!

“Você é um ninguém, o que é aquele garoto sem talento?”

Rodando como o moinho dentro da minha cabeça,

Esta chuva está se formando em um turbilhão de vento.

É the Rain de Janeiro no horizonte da madrugada,

É the Rain de Janeiro que me assusta e dá medo,

É the Rain de Janeiro que não se parece com nada,

Apenas com o funeral da minha morte sem um enredo.

 

 

See Paulo!

 

See Paulo! Aquele ritmo está tocando novamente.

O que você faz sentado neste canto depressivo?

Está bebendo! Você parece que nunca aprende,

Por que parou de se divertir meu grande amigo?

 

- “Por que eu parei? Você não enxerga tudo isso?”

“Isso é tão desanimador, você não acha?”

“Eu nunca fiz parte daqui e nem disto!”

“Isso é uma fase tão ridícula que logo passa”.

 

See Paulo! Eu sei que passa, você cresceu,

Mudou as suas perspectivas sobre a vida.

Está bebendo! Você parece que nunca aprendeu,

Como resistir à sua mágoa não sorvida.

 

- “Você se esqueceu do gosto da indiferença?”

“Beber agora é tudo que faço para conviver”,

“Acima da moral de sua fé e da sua crença”

“Minhas dores e mágoas passaram a me entreter”.

 

See Paulo! Olhe bem e veja o que eu sou!

Olhe aonde você chegou sem precisar abrir um sorriso!

Você não se importava e nunca se importou,

Com o mundo de fora do seu mundo secreto, meu paraíso!

See Paulo! Está tocando a sua música, cuidado!

Você e eu sabemos que isso é tudo que lhe resta,

O dinheiro você já gastou e está embriagado,

Levante-se e faça algo que presta!

Sua mãe lhe orientou para não misturar remédios e bebidas,

Você nunca confiou neste pensamento bobo,

É um adolescente que possui suas sete vidas,

E não precisa de regras, porque é dono de si todo.

See Paulo! E se seu coração parar de funcionar?

Você não pensa que ainda é jovem e tem que crescer?

Você terá o seu tempo para pensar e mudar,

Por que se não quem é que vai estar aqui e escrever?

 

- “Aquele ritmo está tocando e eu encontro meus amigos”,

“Depois vou para fora conversar e fumar cigarros”,

“Somos jovens inconsequentes porque perdemos os juízos”,

“Quando dizemos tchau para os nossos pais nos carros”.

“Como eu tento ser como todo mundo aparenta ser!”

“Mas eu não posso negar esta natureza que me desvirtua”,

“A tendência natural que eu tenho para não entender”,

“O porquê todo mundo gosta de estar na rua”.

 

Mary eu não lhe evito na minha vida,

Porque a evolução humana precisa de um defeito.

Mary com você encontro uma boa saída,

Para uma vida entre mim e o que não é aceito.

See Paulo! Você perde-se esporadicamente,

Bebe nos fins de semana para esquecer a segunda-feira.

E escreve como um mentiroso que inteligentemente,

Não perde os maus costumes de nenhuma maneira.

 

- “Eu caí, beijei o asfalto e fiquei deitado”,

“Desisti do ritmo, da vida e da bebida”.

“Cheguei em casa bem mais amargurado”,

“Com menos dinheiro e com uma noite perdida”.

 

See Paulo! Você nunca foi e nem é ninguém especial.

 

Demagogia do Caos

 

Você poderia me perguntar:

Por que você escreve? Por que você é feliz?

Eu poderia lhe perguntar:

Por que motivos não fazer? E por que não ser?

Um dia parei para pensar e então comecei a perceber...

 

Dentro de todo caos existe uma ordem de grandeza matemática,

Maior do que as coisas que poderiam ou não acontecer,

Se isso tem a ver com física, biologia ou estática?

Eu não sei, para mim esta pergunta é difícil de responder.

E se eu errasse nos mesmos erros eu teria resultados diferentes?

E se acertasse nos mesmos acertos a minha vida seria vulgar?

O que se passa dentro de nossas mentes,

Quando resolvemos achar uma solução cabível e mudar?

Se uma borboleta pode gerar um grande tornado,

Apenas batendo suas assas de forma diferenciada,

E se todo dia temos o poder de mudar o não mudado,

Obtendo outra equação matemática com ordem alterada,

Por que não escrever a nossa história?

 

Sem que me diminua ou me deixe para baixo,

Sem um sentido literal de uma demagogia barata,

Dentro de um texto pessoal que me encaixo,

Em águas marítimas onde eu sou um pirata.

Eu não quero ser o mesmo todos os dias e me esquecer,

De todas as causas e consequências que me trouxeram aqui.

Se hoje eu me chamo de Omem é porque crescer,

Foi a melhor coisa que já me aconteceu ou que eu vivi.

Há mais pessoas barulhentas e bem mais barulho,

E não existe mais a apreciação por períodos nublados.

E há muito mais prazer em se ter orgulho,

De viver a precisão dos caminhos que já foram trilhados.

Onde está o risco de se perder um pouco mais?

Onde estão as teorias que não existem?

Vivemos dentro das demagogias animalescas irracionais,

Reclusos, obscuros e com intenções que ainda insistem,

Em regrar apenas o que é certo, e esquecer de todo caos,

Acreditando em uma política incerta que não leva a nada.

 

Você poderia me perguntar:

Por que você escreve? Por que você é feliz?

Eu poderia lhe perguntar:

Por que motivos não fazer? Por que não ser?

Se dentro de uma tragédia eu não aprendi e não fiz,

Como espero que as coisas possam me acontecer?

 

 

Entre Sopas Aguadas

 

Todos que são grandes já estão mortos, você não acha?

E aqueles que ainda vão ser, me parecem tão intocados.

Alguma coisa sempre parece que não se encaixa,

Quando olho para o céu com tantos pontos iluminados.

Existe massa escura, mas a luz é mais brilhosa,

É o que aparece em destaque para todo mundo ver.

Entre sopas aguadas e dores agudas, a vida é maravilhosa,

E o meu humor negro é o melhor que posso lhe oferecer.

Se a vida lhe der o azedo de um limão tome ele gelado,

Com uma fatia da miséria do seu próprio vômito fedorento.

E se lhe der o que me deu não haja como um condenado,

Igual a você existe milhares de pessoas neste exato momento.

 

Eu não apaziguei a ingratidão pelos lugares brancos e hospitalares.

Eu não entendo o motivo das coisas erradas que vão na contramão.

Parece que a morte está hoje em todos os meus melhores lugares,

Cegando aos poucos o meu destino com a sua massa de escuridão.

Todo santo dia eu penso. E como eu estou pensando.

Alguma coisa em mim mudou, o que eu fiz comigo?

Se eu ficar aqui apenas lamentando e implorando,

O que vai ser da minha vida? Isso parece não fazer sentido!

A morte está me fazendo desaparecer aos poucos da humanidade,

Tirando de mim a saúde e jogando ela toda fora.

Não sei se também está me fazendo perder toda a sanidade,

Estou inserido em uma sopa de estrelas agora.

Porque eu acho que posso morrer mais cedo,

Posso morrer e voar acima de uma vida miserável,

Eu não quero que este texto pareça ser o meu medo,

E nem a auto piedade de alguém deplorável.

Eu volto a comer sopas. Sopas aguadas, só com o caldo salgado.

Eu volto a minha depressão azeda e amarga. Isso é tedioso.

Eu volto a olhar para o céu noturno e escuro tão iluminado,

Por pontos brilhosos que abrigam o futuro valioso.

 

Alguma coisa sempre parece que não se encaixa,

É estranho gostar do brilho das estrelas e da massa de escuridão.

Todos que são grandes já estão mortos, você não acha?

Estou farto desta sopa aguada cheirando a morte e a desilusão.

 

 

Ressurreição

 

Eu quero purificar o que você tem por dentro,

Colocar um pouco mais de minha influência abusiva,

Sem trazer ofensa ou lhe causar tormento,

Sem pensar ou racionalizar, com voz passiva.

Eu sou um grande atirador de palavras, capture-as no ar,

Como balas que saem quentes de revólveres clandestinos,

Eu sou o senhor de uma tarde estranha que resolveu chegar,

Para estragar e arruinar, mudando alguns destinos.

Eu sou filho de uma vida de merda, de uma classe social assassina,

Que mata um cachorro a dente por dia para poder sobreviver.

Sou o jovem de aparência medonha, com a canela muito fina,

E não nasci para lhe agradar ou para lhe dar o que você quer ver.

Eu posso ser a sua igreja vazia e sem oração,

Eu posso criar e desenhar para você um mundo idealizado.

Eu posso aceitar só ser mais um na multidão,

Mas, não posso iludir-me ou simplesmente ficar calado.

Não existe mais grandeza na arte da realidade,

O que eu posso fazer para você não ser mais vulgar?

Os platônicos pensamentos sobre criatividade,

São idealizados em outro plano para depois prosperar.

Eu posso pintar um arco-íris ou ser um caldeirão de matéria escura,

Eu posso fingir que sou cego e que não tenho mais salvação,

Eu posso enlouquecer e fugir sozinho gritando na rua,

Por que simplesmente cansei de não chamar atenção.

Eu não quero ser mais um animal solitário que geme de dor,

Ou um homem antigo e ultrapassado com ideias presas na frustração.

Eu quero persuadir a sua personalidade e lhe mostrar o calor,

Que eu faço brotar do meu coração.

Eu sinto-o batendo mais forte nesta rima,

Estou livre e pairando sobre a minha própria limitação,

E não sei mais o que posso ver daqui de cima,

Se eu sou a cópia ou se sou a inspiração.

Queria poder lhe dizer o que as palavras escritas melhor significam,

Queria poder compartilhar o que este mix de letras não traduz,

Mas seria o mesmo que pedir para que alguém me crucifique,

Assim como Jesus morreu em uma cruz.

E não posso dizer que este texto é a minha sexta-feira santa,

Pois é o meu regresso em um domingo de ressurreição,

E não sei por que isto lhe espanta,

Já me perdi outras vezes em solidão.

Não existe espaço para a arte da realidade.

Se a palavra é de ferro e baseada na verdade,

Não quero mais persuadir nada e ninguém.

 

 

Os desacorçoados

 

Nós já temos as rosas vermelhas para o enterro.

Criamos caixões onde descansarão os nossos sonhos.

 

Se jogar sobre um abismo sem fim. Essa é a nossa natureza.

 

Não quero ser o amigo ausente, a música que não muda,

Cansei de me enterrar com rosas vermelhas,

Ouvir os mesmos nomes e dramas

Sentir as mesmas dores e acessos.

Por que o mundo acabou para todos nós, os desacorçoados,

 

E nós enterremos

Todos nossos sonhos

Nesta porcaria de vida.

 

Desorganizado

 

Se você soubesse o caos que está a minha vida,

Minhas roupas estão todas desorganizadas,

Jogadas de um modo aleatório no chão do quarto,

Amassadas, sujas e batidas.

 

“Você está bem?”, “Você está melhor?”

 

Eu quero apenas parar de ter dor.

 

Decadência

 

Desculpe-me Zuenir Ventura. Estava lendo seu livro e pensando.

Como é fácil para alguém como você, que tem o reconhecimento que tem,

Explanar sobre os seus luxos, seus tratamentos e dilemas clínicos.

Não sei se seu livro sairia, se você fosse um paciente do SUS,

Um sistema em decadência mais ainda assim o melhor do mundo.

Parabéns! Você é um ótimo escritor. Despertou-me inveja.

Este mal secreto não é nada mais secreto.

Estou na minha própria ruína literária,

Se isso pode ser considerado alguma coisa que tenha valor.

Não sei se devo chamar-lhe de senhor,

(É um venerado membro da nossa academia brasileira de letras),

Mas, por ler o que você escreve, acho que somos um pouco conhecidos,

Nossas ficções se conhecem e se conectam neste exato momento.

Bom. Aceito bem determinadas coisas. E por um instante quis ser você.

Poder escrever, viajar, e ter um tratamento médico adequado.

Não depender de uma vaga remanescente ou de um soro para evitar dor,

Isso dentro da perspectiva de um filho de um pai da classe média baixa,

Sem carteira assinada, viúvo e detentor financeiro da casa.

Um grande homem que cursou o supletivo depois de velho,

Para acabar os seus estudos do ensino médio,

E dar um bom exemplo, a este que escreve, para fazer faculdade,

E escrever estas porcarias que não tem mais o mesmo valor de antes,

Naquele belo período dos “Anos Dourados”, que valem boas lembranças.

“O que dói não é a morte, mas o padecimento” – página 87 de seu livro.

É isso que me dói. É isso que me dói e não a morte.

Em um quarto abafado, com dores e fome.

 

Ontem eu recebi uma mensagem que dizia: “te admiro muito”.

Mas eu não admiro mais nada em mim.

Não sou mais garoto, não sou mais amigo, não sou exemplar,

Não sou egocêntrico, não sou amado e nem sou mais misterioso.

Voltei a ir à Igreja.

Voltei mais uma vez a ir ao hospital, tomar soro, remédio na veia.

Remédios são o que não me faltam. O que me faltam são recursos.

E queria poder parar de ler o seu livro na metade,

Por que tenho inveja de alguém que é tão criativo na dor,

Assim como fiz com Clarice e a sua “Maça no Escuro”.

Quem sabe “Ciranda de Pedra” seja melhor que seu livro,

E não me faça desejar não ter vivido na última cirurgia que fiz.

Eu tenho inveja sim.

E estou na minha ruína literária.

 

 

A festa de Malisca

 

A tempestade do horizonte estava chegando,

Eu a chamei de Malisca, logo o mundo sentiria,

Aos poucos a temperatura acabou abaixando,

E os ventos começavam a destruir o que previa.

Os raios cortaram o céu escuro da noite de Abril,

Já não era mais quaresma e o Diabo estava trancado,

Veio água e mais água como nunca se viu,

A chuva foi tamanha que acabei todo encharcado,

Ajuntei as minhas folhas, corri para dentro, fechei as portas,

Queimei ramo bento e cobri os espelhos das paredes,

Cruzei minhas mentiras e fechei os olhos dando as costas,

Não se via mais formas apenas as conexões e redes...

Malisca esposa de Molusco e qualquer coisa marinha,

Deixou-me de feição fechada, velado e solitário,

Destruiu com a cidade dos meus sonhos, e adivinha:

Arrasou com minha vida, colocou tudo ao contrário.

E rimar não é necessário, não tecerei comentário.

Não existe vocabulário, Malisca fez aniversário!

Sim, foi isso que eu ouvi quando foram 10hs exatas,

Cantavam alto as nuvens: “Parabéns para você!”,

O rio enchia, levava as casas das pessoas fartas,

Daquele barulho infernal, grande fuzuê.

Era um parabéns com sons africanos e gestos comedidos,

Uma festa particular para Malisca e seus admiradores,

Para curar as memórias dos corações partidos,

E repaginar as histórias povoadas com muitas cores.

A chuva de lágrimas estava passando,

Apenas tinham raios de cólicas e escuridão,

De repente o céu acabou iluminando,

O vazio e o silêncio que se fez por antecipação.

Já sabia-se de Malisca no noticiário da manhã,

Já ouvia-se sobre ela na previsão do meio-dia.

Mas, a mente que estava em uma filosofia vã,

Não conseguia entender uma informação vazia.

Se ver Malisca diga que não pude comparecer à festa promovida,

Estava dormindo e contando algumas falsidades,

Se ela desabar em água em uma quantidade de chuva comovida,

Diga que nunca me dei bem com as tempestades.

 

 

Tagarela

 

Existe espaço para a minha falta de espaço?

Eu gosto de ser uma ilha.

Logo irão notar que eu existo.

E isso é perder o domínio de minha...

.......................Ilha!...................................

 

 

Estranho e Diferente

 

Estava pensando o quanto sou estranho.

Parei para me rever e ler alguns textos,

E realmente alguma coisa não faz nenhum sentido.

Eu lembrei antes, e agora estou lembrando-me da lembrança,

De quando trocando os canais de televisão achei música diferente,

Música que não tinha ouvido na minha vida.

E é estranho escrever a palavra estranho.

Então não vou mais escrevê-la.

Não aqui neste texto tão estranho.

Bom, esta foi a última vez que escrevo.

Esse texto está ficando com muita cor para o meu gosto.

E para o meu gosto também é uma frase que não vou mais escrever.

Não aqui neste texto tão...

E fico sempre aqui na mesma.

Escrevendo muita coisa sem sentido.

E nunca acabo os meus livros.

Livros e mais livros, repletos de textos coloridos como este.

E este tipo de frase é bem usada em meus textos.

Eles sempre perdem o valor e acabam.

E acho que este não vai ser tão diferente.

E diferente me lembra os canais.

Porque existe tanta coisa diferente nos canais diferentes de televisão.

E neles existem tantas músicas diferentes. Músicas que a gente nunca ouviu.

E diferente me lembra estranho. E não era para escrever esta palavra.

Então perdeu todo o valor e como sempre chegou ao fim.

Não adianta tentar escrever um final diferente.

Fica daí tudo muito estranho demais para o meu gosto.

 

 

O que eu queria

 

Eu queria ter uma salvação clara em mente,

E não ficar dando círculos como uma bailarina com o pé quebrado.

Eu queria poder sentir o que muita gente não sente,

E poder dormir eternamente como um morto castigado.

E queria a serenidade de um dia amanhecendo no inverno,

Aquele branco sem fim de gelo, aquela sensação tão morna,

Poder me arrumar e adentrar a escuridão das estrelas no eterno,

E poder dormir dentro do universo sem linhas que não possui forma.

Queria ser Dali, queria poder ter bigodes escuros e compridos,

Queria poder saciar a minha mente com pouco ou quase nada.

Queria acordar feliz por não ter que tomar mais comprimidos,

Acertar pelo menos uma vez na minha vida em alguma jogada.

Hoje de meio dia eu falei: “Preciso de um psicólogo, pai”.

“Eu não estou mais bem por dentro!”.

“Alguma coisa em mim sempre vem e vai, pai”

“Eu acho que estou desmoronando, e isso já faz um tempo!”.

Eu tenho escondido de mim mesmo a verdade sobre este medo,

Este monstro assustador que é a minha depressão.

Eu não aguento mais viver e guardar a minha amargura em segredo,

Eu quero morrer dentro do meu mundo de solidão.

Eu cansei de evocar um passado que já não presta,

E muito menos estar convicto de que “o amanhã já vem.”

Estou acorrentado a um presente de merda que me detesta,

E não me faz mal, mas também não me faz nenhum bem.

Eu queria ter uma salvação clara em mente,

E não ficar dando círculos como uma bailarina com o pé quebrado.

Eu queria poder sentir o que muita gente não sente,

E poder dormir eternamente como um morto castigado.

 

 

Espaço e Tempo

 

Existe um espaço vazio, sem cor, bem nublado,

Dentro de meu peito aberto, em dor, mofado,

Com um tom melancólico, um dia acinzentado,

Com cheiro de água santa, misturada com pecado.

E existe uma parte de mim que é colorida e brilhante,

Um pedaço da minha vida que é fascinante,

Um delírio de verão estonteante,

Uma droga para alguém arrogante.

E existe um espaço em que eu fabrico as coisas erradas,

De trás para frente para não fazer nenhum sentido.

Um espaço onde eu fico com as mãos amarradas,

Enquanto alguém tenta deixar-me um pouco mais colorido.

Eu sou espaço preenchido dentro de um universo e verso.

Eu não sou vazio ou um pastel de vento.

Estou lendo e escrevendo, me sinto imerso,

Dentro de um caos que pode chegar a qualquer momento.

 

1,2,3...

E

u não acab

ei esta ideia. Es

tou disc

ordando do tempo.

Quando se passa o

tempo, e como el

e se passa!,

Mudei de dia.

A vida ficou mais comple

xa e densa.

O que era uma insensatez

e uma desgraça,

Passa a ser mais uma

coisa em que se pensa.

1,2,3... eu não acabe

i esta ide

ia.

 

Sentado logo pela manhã,

com o “Sorriso do Lagart

o” para ler, Nada a mais

para mudar, tudo a mais p

ara fazer.

Sim liguei a televisão para

ver o que aconteceu no m

undo.

A presidente Dilma foi ou

não golpeada, Se o mundo

está mudando neste exato

tempo de segundo. Eu p

isquei e as coisas mu

daram. O sol está caminha

ndo. Eu pisquei e as cois

as não são mais as mesmas

de antes-agora, Estou discord

ando, sem tempo para ler, eu

estou também mudando,

A vida passa, 1,2,3...

Minha Nossa Senhora!

 

Existe um espaço que precisa ser colorido,

Um espaço que é meu onde eu faço questão de existir,

E pode ser que esteja um pouco dolorido,

O texto que surge apenas por surgir.

A vida passa, 1,2,3... Minha Nossa Senhora!

Eu pisquei e as coisas não são mais antes-agora!

PARTE III – GERMINAR

O meu Omem Social

 

Em um túmulo principal,

Chovendo gotículas de seiva e terror,

Há uma semente espichada,

Germinando de dor em dor...

Ela grita criando raízes profundas,

Em oxigênio, monóxido de carbono.

Fotossintetizando os cachos, pedras

Pedregulhos, terra fofa,

Desilusão das luzes, das 6 da manhã

Às beiras e rachaduras, do sol final

Da tarde.

Se estica, saindo da terra.

Mas em-terra para chegar ao céu.

Vibrante em clorofila é tão bela,

Colorindo-se esférica ao léu...

Além,

Pós-tummo. Mas, germina.

Começa por construir e termina:

Em sociedade com as gramíneas e insetos.

Dia dos santos, mortos e afetos.

Cruzando minhocas, cachoeira de tempestades

Caveiras e ossadas dos mortos.

Sociedade das rosas e flores acobreadas,

Verde-musgo, plastificadas,

Ordenadas dentro de 1 até tantos.

Velas e prantos.

Se-mente, ger-mina a terra com sua raiz

Manifestada entre os mármores e cimentos.

 

Germinar e brotar como uma vegetação e uma espécie,

Ir contra a minha própria cultura do que é o correto,

Descer para uma sociedade mais humana que não padece,

Do mal que atormenta o nosso grande e precioso século.

Fiz uma autoaceitação dos meus problemas internos,

Omiti as circunstâncias que não queria mais ver para me culpar,

Roguei para Deus me ajudar a superar os meus infernos,

Agora eu sou mais vida dentro da perspectiva que acabei de criar:

 

“Gente. Sou gente até mesmo que nem sei o nome.”

Incerto como o frio que é para vir e acaba não vindo.

De uma coisa eu tenho certeza, eu acordei com mais fome,

O meu omem crescido quer comer a cultura do que é produzido:

Dos romances dos livros, da manifestação popular,

De um governo que não pode manipular.

Está na hora de eu pintar meu cabelo e ir pra rua,

Não com as cores daquilo de querem que eu pinte,

Está na hora de lutar e dizer a minha opinião crua,

E não omitir aquilo que todo mundo faz e omite.

Eu sou a minha classe, aquilo que já criaram para eu existir,

Não posso descer para outro escalão e nem pensar em subir,

Não sou decisório dentro de um espaço cada vez mais segregado,

E na igreja continuam a pregar que o que eu faço é um pecado...

Pela primeira vez fui atingido na cara por água benta vendida –

Vendida pela companhia que trata a água como um produto,

No altar ela foi transformada em água santa e ungida,

Mas, eu continuo sem saber aonde está a semente e o fruto.

Permita-me acabar este meu raciocínio ideológico:

Peguei uma pilha de livros e abri para ver o que aconteceria,

E eu não pude acreditar no que isso tudo me sucederia,

Não consegui mais parar de descobrir que era um homem social,

Somente parei quando cheguei a ler o que dizia no final,

Assim comecei a pensar, comecei a desconhecer.

Repensei:

As coisas são o germinar, ou as coisas são o florescer?

Flori mais quem flori sintetizando plástico?

Coração pulsante e elástico,

Dizendo: ger-mine! Ninguém nasceu pra semente.

crise de consciência

 

Vocês já tiveram uma crise de consciência e ficaram lembrando?

As amizades que existiam e que hoje não existem mais?

As coisas que o tempo lhe lembra, que ficaram distantes lá atrás?

Vocês não acham que alguns momentos deveriam se repetir?

Que certas coisas deveriam ser vivenciadas em câmera lenta?

Por que existem circunstâncias ruins entre momentos bons?

Por que as coisas não podem florescer em um campo fértil de felicidade?

Já obturaram seus dentes quantas vezes?

Passou pela geração que era emotiva e usava franja?

O que você não fez para ser de um grupo ou para ser aceito?

Quantas vezes o seu horóscopo mandou você usar a cor laranja?

Quantas crises a mais de consciência ainda vou ter?

Quanta vida a mais me espera?

Quanta pergunta ainda terei para responder,

Sobre o quanto a lembrança de uma vida é tão bela?

 

A coroação de um outono gelado

 

Lá estava ela. Com seu manto bicolor azul e negro.

Rodeada pela noite escura e pelas constelações universais.

Seus lábios cerrados e finos escondiam um segredo,

"Amai-vos, uns aos outros" como seres espirituais.

Anjos negros, de asas douradas cruzavam um céu de nuvens brancas,

Com texturas aveludadas feitas pelas mãos-santas.

E a virgem Maria era a dama do universo, Nuit, como queira:

Dama universal, senhora mãe que me rodeia.

E aquele lindo anjo, doce anjo bicolor que não sorria,

Estava coroado pelo frio que o cercava,

Em um Outono perfeito que não mais se via,

E nem mesmo o tempo modicava o espaço em que estava.

E veio até a mim olhou em meus olhos e disse:

 

"Onde mora a senhora vida que você habita?"

 

"Eu não sei para onde ela foi. Ainda não chegou a minha hora" respondi.

 

"Eu sou o anjo da morte, não me deixe com a mente aflita!"

 

"A minha vida não precisa de sua coroa, vá embora!" eu menti.

 

Ela olhou para os lados, abriu suas asas e me disse adeus,

Eu lhe mandei um beijo sabendo que iria voltar,

Chamei pelo universo que é o meu senhor e meu Deus,

A vida não precisava ser coroada para mim lembrar.

Não se volta do mundo dos mortos sendo o mesmo que era,

E estou satisfeito com tudo que sou,

O anjo da morte com sua coroa e olhos de fera,

Um dia voltaria para buscar, o que ele hoje não levou.

E nesta madrugada fria, de um Outono gelado,

Encontrei a minha vida para me manter mais aquecido,

A morte coroa um homem que quer ser iluminado,

Pelos feitos em que nunca foi muito bem compreendido.

A beleza dos olhos angelicais seduzem,

São brancos como as brumas do mar ainda intocado,

A voz melodiosa que eles emitem, nos induzem,

A sermos rigorosos pelo padrão que não pode ser alterado.

E ficamos parados dentro de uma Capela barroca que queima,

Rebuscados pelas vozes e pelos brilhos que fascinam,

Nossa velha opinião – freima:

Pela luxúria e obrigação da coroação que nos ensinam,

De que a vida é luta, é vida que deve valer alguma coisa na morte,

Vida só é vida se o sucesso e o dinheiro aparecerem de bom grado,

Para os poucos infelizes que vivem dentro desta enorme sorte,

A morte coroa e transforma em santo o que é pecado.

Não quero redimir minhas palavras escritas,

Nem blasfemar contra a minha religião,

Cansei de ler e rever as minhas antigas listas,

De textos contra tudo que sempre foi cristão.

 

E volto para o que disse no início:............

 

Lá estava ela rodeada por estrelas e seu manto,

Seu olhar infernal de um inverno sem encanto,

Acompanhada de seres alados e bestiais,

Com todos aqueles que foram os pais de meus pais dos seus pais.

E vi quando abriu sua boca, com sua voz recitando sete línguas,

Abriram todas as mágoas de minhas tantas outras vidas,

Mas não quis a coroa e nem a glória de meu nome,

Ainda era muito cedo para deixar de ser um bom homem.

Então eu vi que ela passou para o céu sua cor,

Levou embora com ela: antepassados e rancor,

Porque desta vida não se leva nada, só se leva experiência,

Com uma pitada do amor, do amor pela própria existência.

Astrologia Sagrada

 

Batem-se os tambores e jogam-se as runas,

O futuro foi lançado e traçado na palma da mão.

Por que eu não me jogo contra o vento?

É rápido demais para eu permitir que este texto seja livre,

E que pertença a um refrão de uma canção universal,

As minhas poucas esperanças sobre os resultados do que se vive,

Acabam com os meus problemas pondo um grande ponto final.

E por que eu me permito ser um homem violado?

Por que as cartas não podem acertar o meu futuro?

Por que acreditar nesta astrologia que me deixa frustrado,

Pendendo para lá e para cá em cima do muro?

Talvez errada seja a cultura daquilo que se faz acreditar,

Que dentro de uma economia você só faz por que você gosta.

Queria ver se você estivesse em outro lugar,

Vivendo em um mundo fragilizado de bosta.

Existem coisas reais, maiores que a astrologia e que as cartas,

Um mundo empobrecido que cada vez é mais individualista.

E não adianta se embriagar de uma filosofia sobre lagartas,

Se continuar a ser um grande ícone exibicionista.

Eu coloco à venda as minhas palavras e o meu pensamento,

Por que eu vivo de uma economia capitalista de mercado,

Este é mais um relatório astrológico de um sagrado sacramento,

Que chegou para acabar com o meu atual estado:

Estou dentro do meu maior e penoso isolamento,

Bebendo água santa para redimir o meu pecado,

E se isto tudo tem a ver com o meu sentimento,

Eu peço desculpas porque não posso ser mais o culpado,

Por que é que eu não me jogo contra o vento?

As runas já me alertaram o nascimento,

Sou eu nascendo dentro de mim e da minha solidão,

O futuro foi lançado e traçado na palma da mão,

Por que desenhar uma astrologia sagrada?

 

Sol em touro, lua em peixes, ascendente em escorpião.

O que sabia enquanto Gullar

 

Uma rosa mística pegava fogo enquanto eu lia,

E não sabia mais o que fazer com os meus pensamentos,

Eram torrentes de água que não mais me enchia,

O que ele escreve com seus inúmeros tormentos?

Não me diga que você não foi com aquele pássaro voar,

Que não pisou no nada e não viu cadáveres mortos?

Por que este homem teve que me desafiar,

A pensar na morte e na criatividade dos corpos?

O que eu sabia enquanto Gullar escrevia?

Por que azedou a minha boca e eu suspirei com meu arrepio?

Seria alguma magia de sua doce bruxaria,

Ou a minha esquizofrenia mental que me persuadiu?

Minha cabeça estava a prêmio em uma guilhotina,

E vi um homem dentro de uma cabana castigada,

Deitei na grama com o amor em uma sintonia fina,

E senti o vento com a minha pessoa tanto amada.

Isso é o que eu sabia sobre Gullar,

E o que ele podia causar dentro da minha razão.

Gullar a sua poesia-arte me deixou sem ar,

E estou pulando como um menino sem chão.

O tempo e a mística dos sonhos que iam e vinham,

Eu não sabia mais o que era poesia e o que era arte.

As palavras tinham um sentido que não permitiam,

Que se entendesse alguma coisa imaginária a parte.

Isso é o que eu sabia sobre Gullar.

 

 

A ruína de um garoto

 

Domingo às vezes é frio dentro da alma.

É um passado dentro de um cemitério em que se enterra um corpo,

Pedaço do seu, pedaço da sua própria consciência espiritual.

Domingo é sol, é uma tarde tranquila e calma,

É um passado não distante de um menino que está morto,

É a libertação de palavras que não fazem nenhum mal.

Eu não estou impossibilitado de sair daqui.

Porque eu sou aqui. Eu sou eu mesmo e estou cheio do que me cerca.

Sou o que eu escrevo e sou aquele que escreve.

Eu sou doce como açúcar e gelado como neve.

 

Você não vê que a energia de você...

me contamina e flui,

Que faz de mim

tudo o que me restou,

Este pedaço de nada,

espaço cheio de ruína?

Roubava a minha paciência,

“O Homem Nu”.

Mas, domingo às vezes

é frio dentro da alma,

Domingo é

um

porre...

Hoje resolvi ser a ruína e ter anos de história.

Future Teller

 

Eu previ com árvore em fogo,

A maneira abrupta que chegaria,

O galho da roda da fortuna,

Preenchido de meritocracia.

Não há densidade na leveza,

Que carrega os ramos em flor.

Germinando os brotos literários,

Conduzidos por remédio e dor.

Em flor,

Floração – estação – primavera.

Cartas, runas, encenação.

Um futuro destinado às classes,

As mídias em efeito-propagação.

Paralisado em medo, pre-vejo estático.

Um verso capenga, redondo e asmático.

Repleto de defeito,

Repleto de ausência.

Carece de uma rima construída

Por um escritor em [clara]evidência.

Não há nada que possa,

Não há nada que passa.

É a pessoa sendo pessoa,

E fazendo-se às pressas, em desgraça:

Torre fulminada, tarô oráculo,

Mantra-em-desconstrução.

Future Teller, em e-vidência

Na essência, da produção.

Produzido, carimbado. Não há destino.

Meritocracia em traje formal e fino.

Espaço? Tempo? O que há-não há?

Homem social com um H?

Apenas omem.

Apenas omem...

Está na roda da fortuna!

Eu previ com árvore em fogo,

A maneira abrupta que chegaria...

Utopia

 

Eu quero sorrir – nem que seja na imaginação,

Dentro da utopia de balas/chicletes cor de rosa.

Eu quero construir dentro da cabeça e coração,

Um texto em formato de poesia-ficção-prosa.

 

Hoje sou a constelação mais distante...

[que tenta brilhar]

Não ser ofuscada pelos cometas

[e pelas pessoas rancorosas].

 

Sou o sentimento mais leve de amar a vida

[e se amar]

Sem diferenciar e catalogar pessoas

[em classes horrorosas].

 

U..to..pia...

 

A vida não pode ser um lindo balão colorido?

A vida não pode ser um sorvete de morango?

Por que a utopia é um pensamento dolorido?

Sou:

Um garoto quadrado inserido – ?

...em um planeta losango.

U..to..pia...

 

Mamar o leite do universo

sideral que é disperso,

Virar a partitura musical

de uma orquestra em verso,

E sonhar cada dia mais

com a minha doce utopia.

 

Um lugar sem classes,

sem nomes e sem padrões,

Utopia,

um mundo doce cheio de tantas ilusões.

 

Eu quero sorrir

mesmo que isso seja na imaginação,

Dentro da minha utopia

de balas vermelhas de canhão,

Que me lançam para o espaço,

que me fazem um pedaço,

De um garoto quadrado

inserido em um losango.

Eu sou um homem chipanzé

 

*ORANGOTANGO*

 

U..to..piá, UtoHomem...

Sociedade Alternativa

 

Tem que acordar todo dia pela manhã,

Levar os filhos para o colégio,

enfrentar outras pessoas no trânsito,

Quando se tem filhos e se tem um carro,

Quando não se tem que enfrentar:

um metrô ou um ônibus,

Com pessoas e mais pessoas

que chegam a sair pelas janelas.

Quando não se pergunta:

“Por que colocar filho no mundo?”

 

Se trabalha de um modo mecânico

por horas a fio do dia,

Com uma parada também mecânica

para o almoço,

Quando se tem o que comer,

ou quando se tem para onde ir e trabalhar.

 

E se consome tanta porcaria

e mais porcaria,

Quando se tem dinheiro para consumir

num sistema de consumo.

E vive com tanta porcaria,

Tem que engolir tanta porcaria,

Porque você precisa sobreviver

e pagar as suas contas no fim do mês,

Ou conversar com alguém

sobre os problemas da sua vida.

 

E vai todo domingo na igreja,

quando se tem fé.

Quando se acredita em Deus,

ou quando ainda existe esperança de salvação.

Ou não se vai na igreja,

se vai ao culto ou ao terreiro,

Com a mesma convicção

que resguarda a alma de algum mal.

Não percebe que o mal é você mesmo.

Não percebe mais nada.

E quando percebe

já não existe mais tempo para nada,

Tudo sempre é muito tarde.

Tarde muito é sempre tudo.

Nada para tempo mais existe não.

A sociedade alternativa

de um maluco sem noção?

 

Frente para trás de frases

as ler para tempo tem não você.

 

Isso é arte para a sociedade

que ninguém mais observa e nem vê.

Porque o homem que trabalha

é invisível na multidão,

Nada para tempo mais existe não.

Eu sou um homem invisível e indivisível,

sem um refrão.

A sociedade alternativa

de um maluco sem noção?

A sociedade alternativa de um maluco beleza!

 

Um animal racional, que lê e sabe que pensa,

Um trabalhador que luta

por dignidade e decência,

Eu sou um ?omem,

sou maluco, sou alternativo e sou Seixas,

Um brasileiro miserável de muitas queixas...

Tenho que engolir as porcarias

que colocam a comida na mesa,

Quando eu tenho mesa

e tenho o que engolir.

Eu sou a vítima de uma pessoa

que sempre sai ilesa,

Porque tem imunidade

e pouca coisa para cumprir.

Não importa se você é velho,

se é jovem ou se é criança,

Não importa nada,

você não faz parte da sociedade.

Enquanto alguns comem

e ficam coçando a sua pança,

Você trabalha de sol a sol

sem o direito à sua cidade.

 

Nada para tempo mais existe não.

Eu sou um ?omem invisível e indivisível,

S[h]em re-fr-ão...

Platão e a República

 

Queria uma literatura com seres mais maduros e sobrenaturais,

E com menos sobre mim e a minha total ignorância.

Isso não me parece ser justiça, isso sim não é justo!

E isso é um motivo sem sentido para expressar uma opinião,

Porque não falar sobre ser um produto com um custo,

Fruto de um trabalho que não vale nem mesmo a produção?

Tenho muita coisa guardada, mas não quero escrever sobre isso,

Não quero por nomes e nem cair dentro dos mesmos vícios,

Porque aqui é um momento sublime de criação,

Onde a letra encontra a palavra e forma a oração,

Com junções e gramática, rima e sentido,

A vida é justa e não precisa de nenhum motivo,

Assim como eu não preciso explicar o conceito de justiça,

Não sou filósofo e nem mesmo um sociólogo idealista,

Sou um homem crescido e abstracionista,

E isso não tem nada a ver comigo. São apenas palavras.

 

Eu estou tentando e isso não significa que posso mudar,

Não consigo mais em palavras me expressar,

A vida é justa! Sim, a vida me parece bem justa!

E se justiça for o que procura,

Leia “Platão e A República!”

Medo? Que medo! Tem medo?

 

Eu não sou poeta, não sou escritor,

Não sou arquiteto e nem um filho homem.

Eu não sou o melhor amigo, nem o melhor amor,

Não sou a palavra e nem o significado do meu nome.

Quando a caneta escreve no papel,

Eu não sou mais nem eu mesmo,

Não sei o que escrevi no meu passado.

Oh mundo não me ame! Que Medo!

Oh mundo não me queira! Medo?

Mundo? O que é este mundo? Tem medo?

Está virado com tanta sujeira.

Eu não quero idolatrar as palavras,

Fazer com que o poema desfigure o significado,

Uma arte concreta também é feita da simplicidade,

Dos traços mais finos sem idolatria.

Pulsa-se o sangue encharcando o corpo avermelhado,

Unhas, cabelos, pele, tudo isso não é mais meu,

Não sou eu, mas é a parte significativa deste enredo,

 

Tem Medo!                                                                        Tem Medo!

 

Não sei o que cativar, para onde não devo ir?

Como poderei realizar uma linguagem ruim de engolir?

Está cada vez mais alto, do pico de uma montanha com neve,

Você não se atreve!

Sim se atreve!

Isso é dinamite nas veias!

 

Tem medo?                                                                     Tem medo?

 

      Deixa fluir, como um rio que goteja o conjunto das gotas,

      Deixa chover e deixa molhar, você não é este papel,

      Você não é esta caneta, você não é um ser humano!

      Sim você não é poeta!

        Sim você não sabe escrever!

        Sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim,

        Deixe que chova sobre a sua vida.

        Deixe que a água limpe os seus sapatos,

Os mesmos que andaram por lugares distantes do seu eixo central.

E vá! Vá embora daqui, você não é o meio termo,

Você é o termo inteiro, não sabe o que pode descobrir?

 

Tem medo?                                                                      Tem medo?

Do que você tem medo?

Deixa chover!              Deixe fluir!

Medo?                                   Que Medo!                        Do medo?

 

Você é a partícula menor e a partícula maior da esfera.

Deixa o peito aberto, escancara a sua roupa e diz vem,

Abaixe as armas e desarme as suas defesas.

Deixe virar, deixe fluir, deixe fluir, deixe fluir. Medo?

Sou só um alfinete

 

Queria pegar um foguete e sair da Terra,

Parar de ouvir a opinião tão megera,

Que destrói a paz dos meus melhores dias de vida.

Que me traz para os piores dias de morte.

Eu me sinto tão pequeno que não preencho as palavras,

Elas são tão grandes, precisam expressar coisas maiores,

Mazelas maiores que não cabem dentro do meu mundo interno.

Eu não sou ?omem suficiente para mudar o mundo.

Eu não tenho a honra de escrever sobre o mundo.

Como eu posso ser a palavra do mais fraco?

Como eu posso expressar o que só se pensa?

Eu sou a desonra de um poeta já farto,

Do mundo ultrajante do ódio e da violência.

 

Preciso viver na poeira do espaço,

Por que não gosto de dizer que fracassei.

Explodir em um foguete até não sobrar nenhum pedaço,

Que comprove que um dia eu inventei,

A ideia absurda de um absurdismo qualquer.

O que sou eu perto de Drummond e sua antologia poética?

 

Eu não sou ?omem suficiente,

Mas estou escrevendo em persuasão.

Quero um valor que seja evidente,

Eu sou só um alfinete – em composição.

Queria pegar um foguete e sair da Terra,

Parar de ouvir a opinião tão megera,

Que destrói a paz dos meus melhores dias de vida.

 

 

Almoço da Existência

 

Não é por uma questão de ser consciente ou igual,

Nem mesmo pela percepção de que você é um complemento,

Mas pelo valor próprio, pela luta própria,

Por querer que lhe procure e não o contrário.

Não posso usar a mesma arma e golpear meu amigo,

Golpear alguém da minha família e círculo de convívio.

Nós bebemos a mesma bebida e provamos do mesmo alimento,

Só eu que penso desta forma e não ao contrário no momento?

Onde se esconde o Sol sobre minha cabeça?

Onde brilha a minha patética estrela universal?

Cansada de lutar pela minha matéria insaciável?

Um buraco negro de informações que não valem nada.

Eu não posso fazer refeições com as mãos cheias de sujeiras,

De desvios de caráter, de mudanças de personalidade.

Eu preciso prender os meus cabelos cumpridos,

Para os meus olhos chorarem enquanto corto mais cebola.

E eu vos alimento todo dia, realizo seus sonhos e não os meus.

Sou a sua vagabunda, a sua meretriz que lhe satisfaz de graça.

Onde é que eu me escondo dentro deste corpo vazio?

Eu recolho a sua roupa enquanto a minha está lá fora no varal,

No meio da chuva torrencial que inunda a minha cidade.

Eu lhe preparo um bolo quando sei que não posso comer,

Porque estou colocando tudo para fora no banheiro.

E você me troca pela oportunidade segunda,

Onde está a minha vontade maior de ser?

Não preciso da rotina, do almoço que faço todos os dias,

Sem ouvir um obrigado, só ouvir uma obrigação.

Por que eu devo prostituir as minhas vontades,

E me tornar omisso, me importar cada vez menos comigo, o poeta?

Eu quero parar de dar. Quero passar a receber.

Quero parar de me oferecer. Quero passar a me resguardar.

Não quero coisas de segunda mão, nem sentimentos moderados,

Quero o amor por completo!

Eu não preciso preparar cozidos e cortar temperos,

Para fazer uma sopa mental de consciência.

Preciso de pessoas completas e não aos meios,

Que deem valor para a minha existência.

Eu quero existir dentro da minha própria vida.

Poesia

 

Fazia poemas e não poesia,

Fazia o que achava que era a palavra em fogo e não a palavra pacata,

Que vem quando quer porque é bem ingrata,

E percorre os dedos até as teclas do meu computador

Fazendo tic, tic, tic, tac, plum...

Não sei o som que emite, mas acho que isso é o de menos,

Ou o de mais?

 

No meu caminho tinha Drummond,

Uma poesia-poeta que não se separa por catálogos,

É inseparável como a matéria viva da alma,

E como todo o meu drama, mas isso é o de menos,

Ou o de mais?

Oui

 

Paris, quand les feuilles tombent

Votre coeur ne vit pas un mensonge,

Je ne veux pas que vous ayez d'englober

Je veux vivre avec toi un songe.

 

Paris sans terreur.

Oui, je vous en prie.

Equinócio de Setembro VII

 

Você aceita publicar o que você escreve?

Em uma grande editora nacional?

Se expor para ver se com o que ganha,

Você deixa de ser um animal irracional?

Vai que você consiga se vender de corpo e alma,

E publicar um pouco mais de você na história...

Vai que isso faça você perder os seus pudores,

E você fique guardado em alguma memória!

Eu sou as páginas em branco, as páginas escritas,

Sou as linhas encurraladas e os versos catedráticos.

Sou a naturalidade, sou a cabeça cheia de letras,

De todos os autores e de todos os poetas,

Sou um pouco de Vinicius, sou os Andrades,

Sou o Gullar e Gonçalves Dias – das saudades.

Não faço odes, sonetos, poesias para ninguém por defeitos.

Por que eu sou um defeito. Sou uma caligrafia errada,

Uma letra toda torta de uma partitura deformada.

Mas continuo com Lispector, com Coelho, com Alencar,

Com Assis, com Wilde e com a maneira de sonhar,

Porque eu sou um pouco do Cony, e sou a minha biblioteca,

A literatura brasileira é a minha grande Meca.

 

 

Dentro de uma ilusão patética – discorro,

Germino como semente e verso,

Padeço como ?omem.

Substituo em corpo-extensão,

Talvez exista carregado de mentiras. Hipoteticamente dentro de uma ficção em linhas tortas, cheia de dentes e rimas pobres, corridas, retas, sem face. Não pode ser ficção? É apenas uma ilusão imaterial? Mas está na palavra! Eu vi quando a palavra desceu em fogo, como uma azia pós-almoço dizendo: “Você existe! Tu és!” MAS, eu sou? Me pergunto. Como um tropeço imemorial existindo de mentira. Como posso enganar que existo, se a massa escura que comi ontem a noite não me assentou bem ao estômago? “Gorfei” no caminho da pia, entre o vaso e a ducha quente – ligada para saborear meu corpo do alívio imediato da dor crônica batendo, como um tambor dentro do imemorial tempo desgastado que me verte pelos dedos, apagando os olhos. Olhos apagados. Apegados? Também. É memória, de olhos fechados. Em pensamento semiótico de uma produção ficcional sem cor, sem vida, sem brilho, sem forma, em linha reta, esticada, como um chiclete ou um elástico entre duas cadeiras brancas – uma amassada, empenada, por secar no sol após o banho da minha vó... regresso. Pulo elástico, volto. Pulando, pulando, pulando... Vertendo aos brotos, de um ramo que teme voltar para dentro da terra, e não germinar – apodrecer, e servir de comida para minhocas e depois pássaros, e depois... Depois não faço questão de pensar, abro os olhos e seco. Foi pulso? Impulso? Cadê o H do omem? Parado. Ponto. É ficção... e o Homem?..

O Homem Ilusão

 

Não querer ainda me impressiona,

Geralmente as coisas demoram à chegar,

Quando realmente chegam, quando tudo não é ilusão.

O mundo é uma ilusão, e está Caindo,

                                                          Caindo,

                                                                Caindo,

Nada mais está acontecendo. A vida toda morreu.

E eu acho que morri com esta vida toda.

Eu quero sorrisos e menos rotinas.

Quero o sol em um dia nublado.

E todo este querer e este não querer,

É a memória de alguém fragmentado.

Eu dei as costas para o Sol que se centralizava,

Sobre o palco e sobre o teto em brasa,

A energia ruim estava toda concentrada no banheiro.

E eu não vou limpar o fogão e a frigideira,

Eu não vou passar frio aqui fora,

Eu não quero e nem preciso de todas essas coisas.

Ontem, antes de dormir, eu cogitei mais um fracasso,

E sonhei com a vitória, que também é ilusão.

Acordei no almoço com a vontade de chorar reprimida,

E com a irritação cada vez mais constante.

O que é essa incerteza pela vida?

Por que não faço um verso mais reconfortante?

Pulei as etapas do garoto sonhador,

Fiquei preso ao homem amedrontado.

E isso é o máximo que alguém como eu consegue.

Hoje sou mais um punhado de ilusões e realidades.

 

 

O mundo é uma ilusão, e está Caindo,

                                                          Caindo,

                                                                Caindo.

 

 

“A Dor e a Rosa” não podem cumprir,

O que “O Senhor da Madrugada” se propôs a fazer,

Entre o “Segredo da Morte e da Escuridão” que fiz surgir,

“Eu Me Quero Com Sal” só por me querer.

“O Diabo Vespertino e a Loucura” me seduziram,

Como a “Arte Sedução” em que eu fugi,

De mim mesmo, como os “Autores Renegados” que surgiram,

E como a “TERAPIA” em que enlouqueci.

Do “O Arcano 21” que me libertei,

Para “O Homem Ilusão” que me tornei.

Eu acho que cansei de tantos diários.

Quero sentimentos profundos e literários.

Eu quero ser lido.

O mundo é uma ilusão, e está Caindo,

                                                          Caindo,

                                                               E indo...

[GERMINOmen]

 

 

 

Minha mãe plantou

 

Os livros de biologia do ensino médio, são metódicos e estáticos,

Nada dinâmicos e as vezes assintomáticos,

Como o amor que brota do asfalto,

Na flor da poesia de Drummond.

Rita, fazendo drag com história,

Minha mãe plantou lírios e agora

Estão verdes como os sonhos do menino

Que andava de salto das três às cinco,

Depois de lavar a louça de casa

Enquanto a mãe lavava na casa de algum estranho.

Lírios no canteiro, minha sobrinha crescendo...

Meu sobrinho que acabou nascendo

O pisciano da família...

Ele sonha dormindo, como o mundo sonha buscando curar

A ansiedade de ficar em casa isolado.

 

“Não bate o rodo nas flores...” eu digo para minha sobrinha!

“Minha mãe plantou” então penso.

E as flores ficam amassadas, como a minha cara

Que não tiro do travesseiro, ficando em casa

Destronando o capitalismo,

Coroando o vírus, extinguindo o gado

Empilhando...

Covas rasas para enterrar o discurso político e econômico,

Somar dados numéricos e estatísticos

Calcular o valor dos anos restantes, de todas as vidas em quarentena:

Milhares de vidas. Calculado.

Lavei as mãos! (E estou correto).

 

Se minha mãe plantou está plantado.

Não vou ler sobre o mundo,

Hoje acordei sendo a Barbie Jardineira...

Exorcismo de nº2

 

Não quero terminar rígido como um galho.

A maciez das areias me fascinam como o pensamento

da água correndo como veias de sangue sobre a Terra.

O grito enfurecido de meu pai,

o canto do pássaro que não morreu

quando viu que o sol não estava rígido sem movimento.

Não quero terminar torto como um graveto seco.

A palidez dos fantasmas imemoriais me apavoram:

Um deles de cabelos encaracolados, que disfarço

com a minha própria sentença de imagem do espelho.

Não quero começar sendo rígido como pedra.

Sólido como gelo que só muda com o calor.

Não quero começar para terminar como galho, graveto, pedra.

As folhas fixas são as de papel impresso,

movimentadas pelas palavras em um processo

que não distingue oxítonas e regras gramaticais:

Belas, práticas e ademais

Presas, soltas, grudadas e empoeiradas dentro do peito.

Não vejo, não sei - talvez saiba, e fique estático:

Rígido e sem reação.

Não quero terminar pois temo não sentir e deixar passar.

Mas, a permanência é rígida e sadomasoquista o suficiente

para dizer que erro. Aceito a verdade e deixo partir...

A tempestade de verão eleva os vapores da terra aos céus:

Meus lábios são meus - e desprezo a ideia de não ser graveto

pedra ou permanente sem movimento.

Uma úlcera tumoral e poética: explode no estômago.

Parece prever a concepção do que faço e desfaço.

Mando chover e me fecho por dentro:

Irrigando as veias e preenchendo espaço.

Não quero terminar duro, inflexível

tomei a caneta e é irreversível

o movimento - de cima para baixo.

Composição

 

Uma planta

pequena,

é criada dentro da poesia ou do processo mental?

Ramificação cerebral?

pulando degraus para baixo

Aos poucos são formadas palavras que se

Uma bola

Perdem ou criam novos sentidos.

Colocadas em ordens e mais ordens

Colorida

O limite entre o ponto inexistente existindo

depois de ser escrita:

Uma planta

pequena,

ramificada sobre um monólito principal.

pulando degraus para baixo

Uma bola

Uma planta

Colocadas em ordens e mais ordens

Aos poucos são formadas palavras que se

Perdem ou criam novos sentidos.

é criada dentro da poesia ou do processo mental?

depois de ser escrita:

pequena

ramificada sobre um monólito principal.

Ramificação cerebral?

Pequena

Uma planta

O limite entre o ponto inexistente existindo

Colorida

Há uma dinâmica que não escapo,

Cuspir na folha o crime de meu tempo,

Digerir a planta dentro do espaço

De adaptação da criação do momento.

Uma planta,

Em ausência

No laboratório cerebral e químico:

Uma planta

pulando degraus para baixo

Ramificação cerebral?

Colocadas em ordens e mais ordens

Uma bola

Em ausência

O limite entre o ponto inexistente existindo

De adaptação da criação do momento.

depois de ser escrita:

Uma planta

Aos poucos são formadas palavras que se

Perdem ou criam novos sentidos.

Perdem ou criam novos sentidos.

No laboratório cerebral e químico:

pequena

Há uma dinâmica que não escapo

Colorida

ramificada sobre um monólito principal.

Uma bola

Colorida

O limite entre o ponto inexistente existindo

Aos poucos são formadas palavras que se

Uma planta

Pequena

Pequena

depois de ser escrita:

Uma planta

ramificada sobre um monólito principal.

Uma planta

Ramificação cerebral?

é criada dentro da poesia ou do processo mental?

pulando degraus para baixo

Colocadas em ordens e mais ordens

Pequena

Digerir a planta dentro do espaço

Cuspir na folha o crime de meu tempo:

A composição:

é criada dentro da poesia ou do processo mental?

TÚMULO

 

Me encontro? Nove anos póstumos a invenção de uma escrita, patética, redonda, fechada – desacreditada. Postulo uma licença poética, sem intervalo de experiências – que nada tem a ver com o tempo (é aberta, singular, indefinível, sem forma... sem forma... devo fechar o parênteses? Não fecho,

 

É aberto,

Sem experimento,

Em experiência.

A terra do fundo do terreno cercado que é meu [sou eu]

Confunde-se com a grama sobreposta às podridões,

Das jabuticabas que secam, como corpos, se dão escuras

Redondas

Frutíferas

Vitaminadas

Em versos.

Para si, em si, quarteto:

 

Linguagem assombrada em esqueleto,

Formulada, e não significada,

Pela caneta – contramão da psique-cose,

Que adentra a cavidade dos meus olhos cansados.

 

A minha sobrinha além de seu tempo, quebrava os ramos com a espátula de jardinagem. No canteiro de rugas, as couves padeciam picotadas, fragmentadas, sem suco esverdeado de detox,

 

Além de seu tempo?

Não estava escondida no encontro

Dos nove anos imparciais da escrita.

“Feliz Aniversário” – FIM DA LISTA

De um pensamento aberto,

Experiencial e aberto,

 

Contido dentro de um grande fecha parênteses). Não é sobre o tempo, trabalho, ação-reação. Me encontro? Omem.

[FIM]

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