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Equinócio de Setembro

Quando sentei e peguei uma caneta em minha mão, no ano de 2010, foi como o princípio de criação de Deus, gênese da Bíblia. Meus poros não sabiam o que acontecia, aos poucos escrevendo eu me conhecia, e as palavras passaram a fazer algum sentido. E com as palavras foram embora noventa centímetros do delgado, me fazendo ficar um mês e meio debilitado, na incrível e distópica maratona de chegar ao topo de mim mesmo. Pactuei com a escuridão dos meus olhos, embebeci ao descobrir que tinha todas as respostas dentro do meu peito. E demorei para perceber que fazia o que já tinha sido feito... Então travei uma batalha contra minha própria existência. Acumulei um punhado de dores e hematomas internos. Colori tanto os meus cabelos, e até hoje não os vi mais da mesma cor que vieram ao mundo... Talvez sejam loiros, talvez mais escuros... Representam tanto os precipícios que acumulei sobre as costas. Então o amor chegou destruindo tudo, como um furacão escala cinco, como um tanque de guerra pesado. Não sobraram vestígios de mim que lutava com braveza, um mero soldado, que queria distribuir o amor sobre a Terra. E veio a chuva, veio a cor, o som e a primavera... Veio também o suicídio, a morte e a solidão, meu travesseiro molhado enquanto embarcava na depressão, foi toda esta loucura e esta decadência e desgraça. Tive medo e fiz graça, mas por dentro estava acabado. Sentir intensamente me deixa apavorado! Escondo as pontas afiadas e os calmantes com frequência, para não entrar na demência, gritar e me deixar levar pelos impulsos que me levam para baixo, para baixo, para baixo... Talvez seja um ciclo de metamorfose, maior do que posso explicar... Então pensei: não vou mais escrever por escrever, nem amar por amar! Se começou no gênese, vai renascer no apocalipse. 

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